23/09/2010

Pois é...
.

"O Brasil tem milhões de brasileiros
que gastam sua energia distribuindo ressentimentos passivos.
Olham o escândalo na televisão e exclamam 'que horror'.
Sabem do roubo do político e falam 'que vergonha'.
Vêem a fila de aposentados ao sol e comentam 'que absurdo'.

Assistem a uma quase pornografia no programa dominical
de televisão e dizem 'que baixaria'.
Assustam-se com os ataques dos criminosos e choram 'que medo'.
E pronto!
Pois acho que precisamos de uma transição 'neste país'.
Do ressentimento passivo à participação ativa.
Pois recentemente estive em Porto Alegre,
onde pude apreciar atitudes com as quais não estou acostumado,
paulista/paulistano que sou.
Um regionalismo que simplesmente não existe na São Paulo que,
sendo de todos, não é de ninguém.
No Rio Grande do Sul,
palestrando num evento do Sindirádio,
uma surpresa.
Abriram com o Hino Nacional.
Todos em pé, cantando.
Em seguida,
o apresentador anunciou o Hino do Estado do Rio Grande do Sul.
Fiquei curioso.
Como seria o hino?
Começa a tocar e,
para minha surpresa,todo mundo cantando a letra!
'Como a aurora precursora do farol da divindade,
foi o vinte de setembro o precursor da liberdade'.
Em seguida um casal, sentado do meu lado,
prepara um chimarrão.
Com garrafa de água quente e tudo.
E oferece aos que estão em volta.
Durante o evento, a cuia passa de mão em mão,
até para mim eles oferecem.
E eu fico pasmo.
Todos colocando a boca na bomba,
mesmo pessoas que não se conhecem.
Aquilo cria um espírito decomunidade ao qual eu,
paulista,não estou acostumado.
Desde que saí de Bauru,nos anos setenta,
não sei mais o que é 'comunidade'.
Fiquei imaginando quem é que sabe cantar o hino de São Paulo.
Aliás, você sabia que São Paulo tem hino?
Pois é... Foi então que me deu um estalo.
Sabe como é que os 'ressentimentos passivos'
se transformarão em participação ativa?
De onde virá o grito de 'basta' contra os escândalos,
a corrupção e o deboche que tomaram conta do Brasil?
De São Paulo é que não será.
Esse grito exige consciência coletiva,algo que há muito
não existe em São Paulo.
Os paulistas perderam a capacidade de mobilização.
Não têm mais interesse por sair às ruas contra a corrupção.
São Paulo é um grande campo de refugiados,
sem personalidade, sem cultura própria, sem 'liga'.
Cada um por si e o todo que se dane.
E isso é até compreensível numa cidade com 12 milhões de habitantes.
Penso que o grito
- se vier -
só poderá partir das comunidades que ainda têm essa 'liga'.
A mesma que eu vi em Porto Alegre.
Algo me diz que mais uma vez os gaúchos
é que levantarão a bandeira.
Que buscarão em suas raízes a indignação que não se
encontra mais em São Paulo.
Que venham, pois.
Com orgulho me juntarei a eles.
De minha parte, eu acrescentaria, ainda:
...Sirvam nossas façanhas, de modelo a toda terra..."
.
.
Arnaldo Jabor


Nenhum comentário:

Postar um comentário